domingo, 30 de janeiro de 2011

Verde - I

Campos de arroz - Ilha de Bali

Branco-IX

"As sequências de números verdadeiramente aleatórios, não correlacionados e com média zero recebem o nome de “ruído branco”. É uma designação curiosa. Provém da engenharia electrotécnica, pois o espectro desse “ruído” tem componentes de todas as frequências em igual distribuição, tal como a luz branca tem todas as cores.
(…) A investigação tem-se dirigido para criar ruído verdadeiramente branco, rápido de produzir e com circuitos muito elementares, de forma que possam ser incorporados em telemóveis e outros aparelhos.
(…) Passa-se do calhamaço ao computador e deste a um circuito microscópio. É ruído branco feito a partir de ruído branco. Nada podia ser mais branco”.

Nuno Crato
Passeio Aleatório
(Expresso, 30/10/10)

sábado, 29 de janeiro de 2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Atrás dos Tempos





Atrás dos tempos vêm tempos
Eu pego na minha viola
e canto assim esta vida a correr.
Eu sei que é pouco e não consola,
nem cozido à portuguesa há sequer.
Quem canta sempre se levanta,
calados é que podemos cair.
Com vinho molha-se a garganta
se a lua nova está para subir.

Que atrás dos tempos vêm tempos
e outros tempos hão-de vir.

Eu sei de histórias verdadeiras,
umas belas e outras tristes de assombrar,
do marinheiro morto em terra
em luta por melhor vida no mar,
da velha criada despedida
que enlouqueceu e se pôs a cantar,
e do trapeiro da avenida
mal dormido se pôs a ouvir.

Que atrás dos tempos vêm tempos
e outros tempos hão-de vir.

Sei de vitórias e derrotas
nesta luta que vamos vencer.
Se quem trabalha não se esgota
tem seu salário sempre a descer.
Olha a polícia, olha o talher,
olha o preço da vida a subir.
Mas quem mal faz por mal espere,
o tirano fez janela para fugir.

Que atrás dos tempos vêm tempos
e outros tempos hão-de vir.

Mas esse tempo que há-de vir
não se espera como a noite espera o dia,
nasce da força que transpira
de braços e pernas em harmonia.
Já basta tanta desgraça
que a gente tem no peito a cair.
Não é do povo nem da raça
mas do modo como vês o porvir.
Que atrás dos tempos vêm tempos
e outros tempos hão-de vir.


Fausto

Madrugada dos Trapeiros

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Cartas a Lucílio

"Procede deste modo, caro Lucílio: reclama o direito de dispores de ti, concentra e aproveita todo o tempo que até agora te era roubado, te era subtraído, que te fugia das mãos. Convence-te de que as coisas são tal como as descrevo: uma parte do tempo é-nos tomada, outra parte vai-se sem darmos por isso, outra deixamo-la escapar. Mas o pior de tudo é o tempo desperdiçado por negligência. Se bem reparares, durante grande parte da vida agimos mal, durante a maior parte não agimos nada, durante toda a vida agimos inutilmente".

Lúcio Aneu Séneca (Córdova 4 a.c. - Roma 65 d.c.)
Cartas a Lucílio - Livro I, Carta 1

Kathleen Ferrier

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Edvard Grieg



Edvard Grieg
Um Sonho
(1889)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Azul

Self Portrait
Victor Willing

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Steve Lehman




Olha!...
castanhas a voarem
em aeronaves
de seda...
e os ares não se importam!...

Anda!...
Vamos voar também!


A. Oliveira

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Dors Ma Mie...




"As Marquesas são um fim de mundo como poucos, e Brel escolheu morrer ali. Ou melhor, regressar ali depois de morto.
Aterrei em Hiva Oa sem ter ideias muito claras sobre a minha motivação para estar lá. Gosto de Brel, e gosto de fins do mundo, talvez as duas coisas juntas tenham servido para a decisão impulsiva de apanhar uma avioneta no Tahiti e passar uns dias em Hiva Oa.
O pequeno cemitério onde jazem os restos mortais de Brel encontra-se numa colina em anfiteatro sobre o mar."

Gonçalo Cadilhe
(1 Km de Cada Vez)

Branco-VIII

Dálcio Machado

Branco-VII

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vertigem

Lewis Hine

"Estava eu no campo com um amigo e falámos de vertigem: ele ignorava o que isso era.

Fiz-lhe várias demonstrações de vertigem sem obter o menor resultado. O meu amigo não conseguia perceber que angústia podemos sentir ao ver um telhador a trabalhar num telhado. A todos os exemplos que apresentei, o meu amigo encolheu os ombros; o que não era muito educado nem amável.

De repente vi um melro que acabava de pousar na extremidade de um ramo, ramo alto, um muito velho ramo. A sua posição era das mais perigosas... O vento fazia o velho ramo oscilar e o pobre do bicho apertava-o com as suas pequenas mãos crispadas.

Voltei-me, então, para o meu companheiro: - Veja, disse eu, como aquele melro me faz pele de galinha e vertigens. Temos de ir buscar imediatamente um colchão e pô-lo debaixo da árvore, porque o pássaro ainda vai perder o equilíbrio e partir, com certeza, a espinha.

Sabem o que é que o meu companheiro me respondeu?

Com toda a frieza?... Com toda a simplicidade?: - Voce sempre me saíu um pessimista!

Convencer as pessoas não é nada fácil."

Erik Satie
(Memórias de um Amnésico)
(http://theamazingtroutblog.blogspot.com/)

"Chove en Santiago"

E quando parou a chuva, já de noite, voltei atrás deles pelas ruas da cidade velha. Foi um passeio interminável, sem aproximações nem requebros, e comecei a fartar-me daquilo. Além disso, deu em chover outra vez, daquela chuva de Santiago que se mete pelos brônquios e em que a gente anda como anfíbios. Até os cavalos de pedra deitam água pela boca.

Manuel Rivas
O Lápis do Carpinteiro

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Georges Brassens e Luís Cília




Au village, sans prétention,
J'ai mauvaise réputation.
Qu'je m'démène ou qu'je reste coi
Je pass' pour un je-ne-sais-quoi!
Je ne fait pourtant de tort à personne
En suivant mon chemin de petit bonhomme.

Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde médit de moi,
Sauf les muets, ça va de soi.

Le jour du Quatorze Juillet
Je reste dans mon lit douillet.
La musique qui marche au pas,
Cela ne me regarde pas.
Je ne fais pourtant de tort à personne,
En n'écoutant pas le clairon qui sonne.

Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde me montre du doigt
Sauf les manchots, ça va de soi.

Quand j'croise un voleur malchanceux,
Poursuivi par un cul-terreux;
J'lance la patte et pourquoi le taire,
Le cul-terreux s'retrouv' par terre
Je ne fait pourtant de tort à personne,
En laissant courir les voleurs de pommes.

Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde se rue sur moi,
Sauf les culs-de-jatte, ça va de soi.

Pas besoin d'être Jérémie,
Pour d'viner l'sort qui m'est promis,
S'ils trouv'nt une corde à leur goût,
Ils me la passeront au cou,
Je ne fait pourtant de tort à personne,
En suivant les ch'mins qui n'mènent pas à Rome,

Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout l'mond' viendra me voir pendu,
Sauf les aveugles, bien entendu.

Georges Brassens

(http://letras.terra.com.br/brassens-georges/51218/)


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Manuel Rivas

"O doutor Da Barca sorriu pensativo. Depois disse: A única coisa boa das fronteiras são as passagens clandestinas. É tremendo o que pode fazer uma linha imaginária traçada um dia na cama por um rei débil mental ou desenhada à mesa por uns poderosos como quem joga um póquer. (...) As fronteiras de verdade são aquelas que mantêm os pobres afastados do bolo".



Manuel Rivas
O Lápis do Carpinteiro, Publicações D. Quixote, 2000

domingo, 2 de janeiro de 2011

Anner Bylsma



J. S. Bach
Suite para violoncelo nº 5, BWV 1011 (1/2)
(1717-1723)

Anner Bylsma
(2000)


sábado, 1 de janeiro de 2011

Branco-VI

Carlos Pinto Coelho

Branco-V

"Entre todas as virgindades, nenhuma é tão sagrada como a de uma página em branco".

Jacinto Benavente y Martinez
(1866-1954)

Nina Simone

My baby just cares for me

My baby don't care for shows
My baby don't care for clothes
My baby just cares for me
My baby don't care for cars and races
My baby don't care for high-tone places

Liz Taylor is not his style
And even Lana Turner's smile
Is somethin' he can't see
My baby don't care who knows
My baby just cares for me

Baby, my baby don't care for shows
And he don't even care for clothes
He cares for me
My baby don't care
For cars and races
My baby don't care for
He don't care for high-tone places

Liz Taylor is not his style
And even Liberace's smile
Is something he can't see
Is something he can't see
I wonder what's wrong with baby
My baby just cares for
My baby just cares for
My baby just cares for me
Gus Khan (1930)(http://www.stlyrics.com/)


Nina Simone