terça-feira, 26 de maio de 2015

Amarelo - LVIII


O DOIRO



     Começa em Mirandela e acaba na Foz, este Calvário. Começa em pedra e água, e acaba em pedra e água. Como nos pesadelos, não há nenhum intervalo para descansar. Entra-se e sai-se do transe em plena angústia.
      No Portugal telúrico e fluvial não conheço outro drama assim, feito de carne e sangue. Drama cruciante e ciclópico, que é o embate de duas forças brutas no primeiro acto, um corpo-a-corpo de vida ou de morte no segundo, e uma espécie de triunfo da fatalidade no terceiro, com o pano do mar a cair. (...)



Miguel Torga
Portugal
(1950)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Branco - MLXIV


O pássaro que se apaga




É durante o dia que ele aparece, no dia mais branco.
Pássaro.

Bate as asas, voa.
Bate as asas, apaga-se.

Bate as asas, ressurge.

Pousa. E depois desaparece. Com um bater de asas
apagou-se no espaço branco.

É assim que se comporta o meu pássaro familiar,
o pássaro que vem povoar o céu
do meu pequeno pátio. Povoar?
Bem se vê de que maneira...

Mas permaneço quieto, a contemplá-lo,
fascinado pela sua aparição,
fascinado pela sua desaparição.



Henri Michaux
Antologia, Relógio D'Água, 1999 
(trad. Margarida Vale de Gato)


sábado, 2 de maio de 2015

Paula Oliveira



Paula Oliveira (voz)
Just in Time

António José Veloso (piano)
Manuel Jorge Veloso (bateria)
Bernardo "Binau" Moreira (contrabaixo)

(2014)