sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Azul - MLXXIV

(...)
Wilder: Ao longo do percurso como anilhador, qual é a captura que mais gosta de lembrar?
Paulo Tenreiro: Gosto de lembrar a única vez que anilhei umMonticola solitarius [Melro-azul]. Em 2000, estava na zona da barragem de Santa Luzia – Pampilhosa da Serra, juntamente com o Carlos Carvalho, a fazer trabalho de campo para o Segundo Atlas das Aves Nidificantes em Portugal. Como era habitual, a viatura estava cheia de caixotes com material, além de um fogão e de uma mala térmica com comida. Estacionámos na beira da estrada e começámos a preparar o almoço. “Pelo sim pelo não, ó Carlos, enquanto descascas a cebola, eu monto aqui duas redes nestes matos”, disse eu.
Nada foi capturado até ao final do almoço, até que observei no topo da encosta uma ave, que devido à distância não consegui identificar. Levantou voo e foi deslizando ao longo da encosta, até conseguir perceber a espécie e ver que tinha acabado de cair na rede. Nunca tinha corrido tanto por cima de silvas e tojo, mas também nunca tinha rido tanto a anilhar uma ave até essa data.


http://www.wilder.pt/historias/paulo-tenreiro-anilhou-mais-de-7000-aves-selvagens-num-so-ano/





Melro Azul


http://www.birdsineurope.com/web/taxonomy/term/242


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Amor - LIV



Ornatos Violeta
Ouvi Dizer
(2006)


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Branco - MLXX


POÉTICA



                     1

Que é a Poesia?
                          uma ilha
                          cercada
              de palavras
                          por todos
                          os lados.


                      2

Que é o Poeta?
                         um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
                         Um homem
                   que tem fome
         como qualquer outro
                         homem.





Cassiano Ricardo
(1964)
Antologia da Poesia Brasileira, José Valle de Figueiredo, Ed. Verbo, s/d.


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Amor - LIII



Maria Augusta Araújo
Leda e o Cisne
(1993)



sábado, 12 de setembro de 2015

António Charrua




António Charrua
Sem Título
(1972)



(...) O "Grande X" nasce das "Ameaças", do avanço das formas oblíquas a trilhar a tela. Para lá desta forma, surge por diversas vezes a cruz de recorte tradicional ou a cruz grega. Não tem, nas palavras de Charrua, um sentido cristológico, mas um carácter abrangente de falência da humanidade, decesso, dor. E nela a morte e o questionar último do sentido da vida. Nos anos seguintes, a cruz será T, será escada ascensional. (...)



Ana Ruivo
X de Charrua-Antológica
CAM-Centro de Arte Moderna Gulbenkian
2015




http://cam.gulbenkian.pt/CAM

https://pt.wikipedia.org


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Cores



Palácio Nacional de Queluz
(2015)



(...) O que está a ser aplicado nas paredes de Queluz obrigou a muita investigação para lá da descoberta da cor. Encontrar o tom certo, a técnica certa. A caiação que está a ser usada pode induzir em erro. O azul parece muito escuro, mas, depois de seco, clareia, explica a conservadora. Aponta para uma das empenas. Aquelas onde foram testadas várias cores. (...)


http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=4682708

Cores




POEMA PARA LAURENCE CALEGHARI




Com extrema aplicação,
como quem escreve um poema,
compõe o pintor a sua paleta.

Primeiro os brancos, com que inventa os navios. Logo
os amarelos, imenso campo de trigo.

Com os vermelhos,
hasteia uma bandeira. Enquanto
os azuis cumprem o destino do vento.

Com o verde
preenche a alegria das folhas.
E os castanhos são
a pele húmida dos montes.

Finalmente o preto.
Com ele escreverá
apenas a palavra liberdade.

                                                                                                                   Paris, 1979


Emanuel Félix
A Viagem Possível-Poesia (1965/1992), Vega, s/d

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Azul - CLXXIII



Manuel Ventura
Regata do Atlântico Azul
Lisboa
(2015)


http://biclaranja.blogs.sapo.pt/2015/08/?page=2

https://marinhadotejo.wordpress.com/



terça-feira, 8 de setembro de 2015

Cores



Poema a uma folha caída
António Eustáquio
(2012)

António Eustáquio (Guitolão)
Carlos Barreto (Contrabaixo)

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Cores



"Há-de Haver..."
Espectáculo "A Viagem do Elefante"
Luís Pastor (música e voz)
(2014)


"Há-de haver..."

Há-de haver uma cor por descobrir,
Um juntar de palavras escondido,
Há de haver uma chave para abrir
A porta deste muro desmedido.
Há-de haver uma ilha mais ao sul,
Uma corda mais tensa e ressoante,
Outro mar que nade noutro azul,
Outra altura de voz que melhor cante.
Poesia tardia que não chegas
A dizer nem metade do que saber:
Não calas, quando podes, nem renegas
Este corpo de acaso em que não cabes.

José Saramago
Os Poemas Possíveis, Portugália Editora, 1966


Cores


(...) vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, vi o meu rosto e as minhas vísceras, vi o teu rosto e senti vertigem e chorei, porque os meus olhos tinham visto esse objecto secreto e conjectural cujo nome os homens usurparam, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo.   
     Senti infinita veneração, infinita lástima.
     - Ficarás tonto por bisbilhotar assim onde não és chamado - disse uma voz enfadonha e alegre.  - Mesmo que queimes o juízo, não me pagarás num século esta revelação. Que observatório formidável, hein, Borges!
  Os pés de Carlos Argentino ocupavam o degrau mais alto. Na brusca penumbra, consegui levantar-me e balbuciar:
     - Formidável. Sim, formidável!
 A indiferença da minha voz causou-me estranheza. Ansioso, Carlos Argentino insistia:
     - Viste tudo bem, a cores?



Jorge Luis Borges 
(1957)
O Aleph, Editorial Estampa, 4ª ed., 1993