segunda-feira, 6 de julho de 2015

Espera - II


   - Venha ter comigo, Se tem o meu número de telefone, tem, com certeza, a minha morada. Não sei quem foi o inconsciente que lhos forneceu. Se por acaso não estiver em casa, encontrar-me-á ao fundo da rua, numa pizaria chamada Tintoretto. Ou ao lado, na brasserie Vivat.
     - A que horas?
   - A qualquer hora. Estou sempre num destes três lugares, são a minha maneira de manifestar-me trino e uno, só que em vez de ser ao mesmo tempo, sou mais metódico do que Deus: nunca estou em mais do que um lugar ao mesmo tempo. Não é tão prático para ter reuniões, mas permite-me estar mais concentrado. Deus dispersa-se muito.
   - A qualquer hora, portanto?
   - A qualquer hora.
   - Irei amanhã logo que acorde.
   - Faça isso. Eu estarei à sua espera. É essa a minha vocação.


Afonso Cruz
A Boneca de Kokoschka, Quetzal, 2010

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