terça-feira, 19 de abril de 2011

Pós-Literatura

O que se tornou hegemónico e pandémico (as livrarias aí estão para o confirmar) não é o romance como forma aberta a todos os discursos e de certo modo indefinível como género, mas as variações infinitas e a mediocridade mimética a que Paul Valéry, no princípio do século XX, passou uma certidão de óbito ao dizer que já não era possível seguir o modelo narrativo do tipo daquele que está implícito numa frase como “La marquise sortît à cinq heures”. (…)

Este romance, que atravessa fronteiras com toda a facilidade e é publicado quase ao mesmo tempo em Nova Iorque, Londres, Paris, Madrid e Lisboa, é o herdeiro de uma literatura de entretenimento que surgiu no século XIX – uma literatura que não é uma forma de conhecimento mas de reprodução, um instrumento de promoção, dominação e legitimação social. É o pacto servil da literatura com este tipo de romance que leva Richard Millet a dizer que entrámos na época da pós-literatura.


António Guerreiro
Atual, 15/1/2011

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