segunda-feira, 7 de julho de 2014

Vermelho - LXIX

     O "Sapucaia" apitou, recolheu a sua prancha e começou a afastar-se do grande barranco, que três inolvidáveis palmeiras, altas e garbosas, padroavam e se viam de largo, nobres como propileus e representativas como um brasão do seringal.
     Uma única luz ardia em terra: a do farol que iluminava os degraus de acesso à varanda do barracão maioral, esse farol que, durante anos, eu fora encarregado de acender, de apagar e de limpar dos insectos que sobre ele morriam ao longo das noites tropicais.
  "Ainda disse adeus com um lenço, mas ninguém me respondeu" - recorda-me o velho papel onde fixei, a lápis, pouco tempo depois, a emoção dessa segunda aventura, maior e mais incerta ainda do que a primeira, duma existência sonhadora e deserdada.
     A luz do farol ia diminuindo ao longe, pequena, estática, um ponto único e vermelho na noite da floresta - um ponto final na minha vida ali.


Ferreira de Castro
A Selva, Livraria Civilização
(1930)

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