segunda-feira, 20 de março de 2017

Branco - XCVI


    
     "COMO É GLORIOSO iniciar uma nova carreira, e aparecer subitamente no mundo culto, com um livro de descobertas na mão, tal um cometa inesperado que fulge no espaço!
     Não, não mais guardarei o meu livro in-petto; ei-lo, senhores, leiam-no. Iniciei e terminei uma viagem de quarenta e dois dias à roda do meu quarto. As observações interessantes que recolhi e o  prazer contínuo que experimentei ao longo do caminho fizeram com que desejasse torná-la pública; a certeza de ser útil conduziu-me a esta decisão. Sente o meu coração uma satisfação inexprimível quando penso no número infinito de infelizes a quem ofereço um meio garantido contra o tédio e um alívio para os males que sofrem. O prazer que se encontra ao viajar no próprio quarto está ao abrigo da inquieta inveja dos homens; é independente da fortuna.
     Terá uma pessoa de ser, efectivamente, bastante infeliz, assaz abandonada, para não ter um reduto onde possa refugiar-se e esconder-se de toda a gente?
      Eis todos os condimentos da viagem."
(...)
Xavier de Maistre
Viagem à roda do meu quarto
 (1795)
& etc - Edições Culturais do Subterrâneo, Lisboa, 2002

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