domingo, 31 de julho de 2011

Arco-Íris

Viram-se pela primeira vez à saída da Cinemateca.
      Era sem dúvida ao fim da tarde; era talvez em meados de Outubro. Conversaram sobre os filmes a que esperavam assistir no dia seguinte e foram depois jantar a um pequeno restaurante perto da Grand'Place: tacitamente ambos escolheram, como sobremesa, um êxtase comum e silencioso diante das opulentas fachadas cobertas de ouro. Logo a seguir perderam-se, entontecidos de nardo e de jasmim, por entre as labirínticas ruelas do Barrio de Santa Cruz. Só voltaram a orientar-se quando a uma esquina divisaram, soturna e esbelta nas suas ameias, a inconfundível torre do Palazzo Vechio. Então encaminharam-se para o centro: uma espessa e ruidosa multidão atravancava, àquela hora, os passeios da Kurfurstendamm, es esplanadas da Via Veneto, as imediações da Place Pigalle. E logo nessa noite ele a acompanhou a casa - que era uma espécie de mansarda, muito sofisticada e quase luxuosa, a dois passos da Platia Omonias, a dois passos de Sloane Square. E logo nessa noite dormiram juntos.

David Mourão-Ferreira
Os Amantes e outros Contos (A Boca)

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