segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Violeta - IV

Fora Roxo educado com padres e irmãos leigos, estivera estendido mago e morto numa praia atlântica, salvara-se de um poço por obra e graça de S. Tibúrcio - de trinta dias de indulgências plenárias no mês de Abril, com aleluias dedicadas especialmente a S. Frutuoso, do Arcebispado de Braga. E uma vez com exemplo, o nobre Duque de Orléans chamou-o a Paris tentando na alquimia da fama encontrar sossego para os seus achaques. Deixou também Roxo obras sobre sangrias e receitas tão famosas de boticário que ainda hoje se passam no País de Basto, junto ao Condado Portucalense. Rezam as velhas crónicas e os incunábulos de cartórios cistercienses que ele era doutorado com três borlas e um capelo pela sábia Universidade de Poitiers, e uma vez reconhecidos os seus altos méritos de estudos científicos no estrangeiro, lhe haviam dado, em Portugal e a título oneroso e por favor ministerial, a equivalência de uma carta de curso do segundo ciclo liceal, com expressa reserva no aproveitamento e frequência de línguas vivas, notadamente no francês; ponteava meias misturando na ajuda da mão esquerda farelo com serrim em partes iguais; acompanhou o Sagrado Viático a casa de um doente de embófia e a jogar gamão foi levado à glória por uma tal Violeta, mulher de acepipes variados, dengosa de anca e almondegada nas falas.

Ruben A.
Cores (1960)

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