(...) Não estranhes, portanto, quando me vires saltar de uma época a outra, pássaro veloz no largo espaço do passado, e sem o menor respeito pela ordem cronológica dos factos. Culpas - se as tenho! - são mínimas. Ou talvez nenhumas. Porque este prazer de recordar, conversando contigo à distância de um oceano, é mais forte que tudo quanto na vida aprendi em matéria de método e de equilíbrio.
Depois, já deves saber como sou de natureza volúvel, desordenada e impulsiva. Interessando-me por todas as coisas ao mesmo tempo, acabo por não me interessar verdadeiramente por nenhuma. Eis o motivo por que as minhas tentativas literárias nunca vão além de contornos, simples esboços, pequenas anotações. Este facto - o exacto reconhecimento dos meus limites estéticos - leva-me a admirar cada vez mais os escritores de talento, os autênticos escritores. (...)
Luís Cajão
um dia fora do mundo
(Ed. Minerva, 1956)
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