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sábado, 30 de dezembro de 2023

Branco - CXII

 


EL LOBITO BUENO




Érase una vez

un lobito bueno 

al que maltrataban

todos los corderos.


Y había también

un príncipe malo

una bruja hermosa

y un pirata honrado.


Todas estas cosas

había una vez.

Cuando yo soñaba

un mundo al revés.




José Agustín Goytisolo, Palabras para Julia, 1979; Lumen, Barcelona, 2015



domingo, 26 de novembro de 2023

Branco - CXI

 



Figueira da Foz - Dez/1980


Caribaci

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Branco - CX

 


narciso desenhado

na brancura do papel - 

cada um reflecte o outro




vento branco de outono -

será que parte com ele 

o perfume da última flor?



Matsuo Bashô, O Eremita viajante [haikus - obra completa], org. e trad. de Joaquim Palma, Assírio & Alvim, Lisboa, 2016, p233.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Branco - CIX

 



Vale das Pombas - Figueira da Foz

22/10/2016



Caribaci

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Branco - CVI

 


O espelho que não conseguia dormir 


Era uma vez um espelho de mão que quando ficava sozinho e ninguém nele se via sentia-se muito mal, como se não existisse, e talvez tivesse razão; mas os outros espelhos faziam troça dele, e quando à noite os guardavam na mesma gaveta do toucador dormiam a sono solto, satisfeitos, alheios à preocupação do neurótico.




Augusto Monterroso, A ovelha negra e outras fábulas, Angelus Novus Editora, Coimbra, 2008, p31.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Branco - CIII



Caribaci

A última pedra


Figueira da Foz

(Agosto/1984)

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Branco - CII







Inteirou-se da cidade
e partiu.

De novo a estrada
(e o que não viu).




A.Oliveira
Lugares de rio

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Branco - CI


     Não só os sentimentos criam palavras, também as palavras criam sentimentos. As palavras formam uma arquitectura de ferro. São a vida e quase toda a nossa vida - a razão e a essência desta barafunda. É com palavras que construímos o mundo. É com palavras que os mortos se nos impõem. É com palavras, que são apenas sons, que tudo edificamos na vida. Mas agora que os valores mudaram, de que nos servem estas palavras? É preciso criar outras, empregar outras, obscuras, terríveis, em carne viva, que traduzam a cólera, o instinto e o espanto.



Raul Brandão
(1917)

Húmus, Quidnovi, Porto, 2008

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Branco - C


(...)


     As minhas cobaias afirmam que, à frente do quiosque dos jornais, na tabacaria, ao entrar no comboio ou na casa de banho de um restaurante, cruzam com outras pessoas a dizeram umas para as outras, em voz alta: "Vês, é mesmo o Tal". "Tens a certeza?" "Claro, é mesmo ele". E continuam a sua conversa amavelmente, enquanto o Tal sente que eles não se importam que ele os ouça, como se ele não existisse.
       Ficam confusos com o facto de um protagonista do imaginário "massmediático" entrar de repente na vida real, mas, ao mesmo tampo, perante a personagem real, comportam-se como se ela pertencesse ainda ao imaginário, como se aparecesse no écran ou numa fotografia de uma revista e eles estivessem a falar na sua ausência.

(...)

Os mass media primeiro convenceram-nos de que o imaginário era real e agora estão a querer-nos convencer de que o real é imaginário. Quanto mais realidade os ecrãs nos mostrarem, mais cinematográfico se torna o mundo de todos os dias. Até que, como queriam alguns filósofos, acabaremos por pensar que estamos sós no mundo e que todo o resto é o filme que Deus, ou um génio maligno, nos projecta à frente dos olhos.

(1989)


Umberto Eco

O Segundo Diário Mínimo, Difel, 1993

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Branco - XCIX


Ah, ser de tudo apenas no reboco
andar de borco                       ser louco
e olhar o obtuso da batalha                      secreto
rouco.


A.Oliveira
Lugares de lume

Branco - XCVIII



Penso que devíamos ler apenas os livros que nos mordem e nos picam. (...) um livro tem de ser o machado para o mar gelado que se encontra dentro de nós. É o que eu penso.

Franz Kafka

Os Contos - 2º vol., Assírio & Alvim, 2012

terça-feira, 21 de março de 2017

Branco - XCVII



AS FOTOGRAFIAS




As fotografias precedem a memória,
são a realidade parada de luz.
As fotografias evoluem como os olhos,
entre reformulações e malogros.
As fotografias não amarelecem, queimam,
não se enchem de pó mas de granizo.
As fotografias duram mais que a memória,
mas não muito mais.



Pedro Mexia
Em Memória, Gótica, Lisboa, 2000


segunda-feira, 20 de março de 2017

Branco - XCVI


    
     "COMO É GLORIOSO iniciar uma nova carreira, e aparecer subitamente no mundo culto, com um livro de descobertas na mão, tal um cometa inesperado que fulge no espaço!
     Não, não mais guardarei o meu livro in-petto; ei-lo, senhores, leiam-no. Iniciei e terminei uma viagem de quarenta e dois dias à roda do meu quarto. As observações interessantes que recolhi e o  prazer contínuo que experimentei ao longo do caminho fizeram com que desejasse torná-la pública; a certeza de ser útil conduziu-me a esta decisão. Sente o meu coração uma satisfação inexprimível quando penso no número infinito de infelizes a quem ofereço um meio garantido contra o tédio e um alívio para os males que sofrem. O prazer que se encontra ao viajar no próprio quarto está ao abrigo da inquieta inveja dos homens; é independente da fortuna.
     Terá uma pessoa de ser, efectivamente, bastante infeliz, assaz abandonada, para não ter um reduto onde possa refugiar-se e esconder-se de toda a gente?
      Eis todos os condimentos da viagem."
(...)
Xavier de Maistre
Viagem à roda do meu quarto
 (1795)
& etc - Edições Culturais do Subterrâneo, Lisboa, 2002

sábado, 31 de dezembro de 2016

Branco - XCIV


EU VI AS VOZES




Eu vi as vozes claramente vistas

e quis ver mais:

é este o quase branco dos avós

e dos avós desses avós sem pais?



Não ouço o silêncio que desliza

pelo branco,

nem quero saber mais:

eu vi as vozes sem sons nem pranto.





José António Matos

Que venham as aves - poemas 2005/2015, Real Gana, i.e., Figueira da Foz, 2016


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Branco - XCII



(...) "Elogio da Sombra é justamente o título de uma obra notável de Junichiro Tanizaki publicada em 1933. Este ensaio clássico da literatura japonesa começa com uma avaliação das consequências da introdução da electricidade no Japão: as alterações que ela irá provocar na arquitectura e no quotidiano dos japoneses, em particular porque será preciso encontrar formas de proteger a cor branca, essa cor que é a do recuo dos signos, e que ficará sujeita à predação da luz eléctrica. O branco serve para distanciar as coisas da sua natureza, para transformar tudo num ritual de representação para que o real permaneça na sombra." (...)



António Pinto Ribeiro
Elogio da Sombra
Jornal Público, 25/10/2013

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Branco - XCI



O segredo da sobrevivência é uma imaginação defeituosa. A incapacidade dos mortais para imaginar as coisas como elas realmente são é o que lhes permite viver, uma vez que um vislumbre momentâneo, incontido, da totalidade do sofrimento do mundo os aniquilaria imediatamente, como uma lufada da mais letal emanação de canos de esgoto.



John Banville
Os Infinitos (2009), ASA, 2011

Branco - CLXXVII


COMUTADOR


                                      Para o Pedro Oom




Ergo-me de ii no zimbório
de folhas na penedia do castelo medieval
de limos na humidade da praia
de cristais entre os rochedos do Cabo Horn


Caminho de gelo na floresta
de sôfrego na vastidão do deserto
de louco na brancura do hospício


EU abismo, eu cratera
inclinei-me e vi um espectáculo caprichoso: uma unha branca
uma unha branca a viver assim despreocupada


OGIVA-BORBOLETA
Arco-de-Cor caído muito triste
Casulo de quem ninguém falou
Teia de Aranha exposta à loucura e ao tempo
Andorinha-Azul de chapéu mole e baratas na cama
VENTOINHA.



António Maria Lisboa
Ossóptico e Outros Poemas (1952), in: Poesia, Assírio & Alvim, 2008


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Branco - CLXXVI



Por entre a verdura
uma flor branca floresce -
não lhe sei o nome.



SHIKI (1869-1902)

Bashô, Buson, Issa, Shiki, Imagens Orientais

(versão portuguesa: Luísa Freire)

Assírio & Alvim, 2003


segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Branco - CLXXV


(...)
Somos analfabetos do silêncio e esse é um dos motivos porque não sabemos viver na paz.
(...)
Pense-se em como o silêncio dá a ver o património de uma amizade. E a pergunta é: como percebemos que dois desconhecidos são amigos? Pela forma como conversam? Certamente. Pelo modo como se riem? Claro que sim. Mas ainda mais porque nitidamente acolhem o silêncio um do outro. Entre conhecidos o silêncio é um embaraço, sentimos imediatamente a necessidade de fazer conversa, de ocupar o espaço em branco da comunicação. Com os amigos o silêncio nada tem de embaraçoso. O silêncio é um vínculo que une.


José Tolentino Mendonça
Expresso, 13/06/2016