sempre se falará de Afonso Duarte através
dos tempos. (Mas poucos o lerão.)
Nenhuma outra poesia, como a de Afonso Duarte, me suscita com mais agudeza a sensação de liberdade - essa mistura dos deuses em que o voluntário e o involuntário se combinam em doses subtis, jeitos populares, enovelamentos de enigma e lógica de música. Poesia ao mesmo tempo espontânea e trabalhada de buril, em que basta a troca de um termo para a tornar labirinto - embora sempre com aquela luzinha ao fundo de todos os contos dos meninos perdidos na floresta. (...)
Poesia que há-de ir abrindo aos poucos, através dos dias e dos meses... hoje, este poema... amanhã aquele... sem nunca todavia correr o risco, como em tantos outros poetas, de se transformar num estendal de flores ocas...
Na poesia de Afonso Duarte haverá sempre um último véu - e esse de limpidez inrasgável.
José Gomes Ferreira
Imitação dos Dias
(1966)
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