Dizem:
as aves são o testemunho da prodigiosa riqueza do nosso universo, guias fiéis na busca dos "fermentos" da "levedura" cósmica que tornou possível que o voo gracioso das andorinhas emergisse da caótica matéria primordial.
Trazem consigo a riqueza dessa levedura cósmica, como os homens: precedem-nos na subtileza que lhes permite voar sem bússolas ou mapas.
As aves conduzem-se pelas estrelas.
Na melancolia de nos vermos presos, sempre, a futuros que poderiam ser outros porque todo o futuro tem um passado plural, a sabedoria das aves é a nossa condição irrealizada, enigmaticamente transfigurada em misteriosa aspiração. Como se, para além das aves, desencontrados do voo, a ele quiséssemos voltar sempre que, na ponta mais fria ou mais só ou mais veemente das libertações, nos despedíssemos dos passados que não queremos:
boa noite, eu vou com as aves.
António Pedro Pita
O Aprendiz do Mundo e Outros Fantasmas, Pé de Página Editores, 2007
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