Eu gosto da presença fantasmática das pessoas. Gosto que os objectos signifiquem profundamente alguém. Os melhores objectos são esses, os que quase presentificam quem os fez ou quem os possuiu.
O lençol da mãe da mãe da minha mãe é um bocado de pessoa que não pôde morrer. Ficou perdurando para me conhecer. Para me cumprimentar e viver comigo, espero que para sempre. Quero transformá-lo numa toalha. Arranjar-lhe uma renda amarela, umas flores amarelas bordadas com flores azuis, e voltar a estender na mesa como se tivesse mudado de sexo ou qualquer coisa tão mudadora assim. Um linho que vive de outro modo. Um linho que era alguém e que passa a ser mais alguém. Um linho que soma. Que me soma.
Valter Hugo Mãe
JL- Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 1141
(25/6/2014)
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