Ela ia sempre acompanhá-lo à despedida até ao primeiro degrau da escada do patamar. Enquanto esperava que lhe trouxessem o cavalo, ela ficava ali. Já se tinham despedido, não diziam mais nada um ao outro; o ar livre rodeava-a, levantando-lhe e misturando-lhe os cabelinhos soltos na nuca, ou sacudindo-lhe sobre a anca as fitas do avental que se enroscavam como bandeirolas. Uma vez, na altura do degelo, a casca das árvores ressumava sobre o pátio, a neve nos telhados das dependências derretia-se. Ela estava no patamar; foi buscar a sombrinha, abriu-a. A sombrinha, de seda cor de ardósia, deixava passar o sol que lhe iluminava com reflexos móveis a pele branca do rosto.
Ela sorria debaixo do abrigo ao calor morno; e ouviam-se as gotas de água, uma a uma, cair sobre o chamalote retesado.
Gustave Flaubert
Madame Bovary, Civilização Editora, 2012 (trad.: Daniel Augusto Gonçalves)
(1856)
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