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Do alto da encosta, quando se descobre o panorama do vale, o que mais salta à vista é a chateza absoluta dessa linha de horizonte: um soco puído, um bloco aplainado onde se enterra o enclave fechado e recortado do vale, com as curtas ravinas afluentes, dispostas como as nervuras de uma folha. A ossatura rochosa aflora a cada instante ao longo das encostas em corcovas gastas, encrustadas do branco baço e amortecido do líquen que é uma das cores obcecantes da Bretanha. Uma vegetação áspera e pouco densa ocupa todos os intervalos: rastos de juncos secos, arbustos rasteiros, de um verde mais escuro, de giestas e tojos que se estendem em placas dartrosas, carvalhos raquíticos, pinhais anões que mergulham em torrentes negras para o fundo da ravina. Nos sítios onde o cume das encostas se une ao planalto, mal a ladeira diminui, matas rasteiras de castanheiros agarram-se por toda a parte, enraizados e hirsutos como os pêlos de uma nuca tosquiada; no Inverno, um emaranhado de bétulas despojadas, de ramiscos muito finos, cobre o fundo da ravina de uma penugem cor de rato, tão ténue que se confunde com a subida da bruma.
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Julien Gracq
Les Eaux Étroites
(1976)
As Águas Estreitas, Assírio & Alvim, Lisboa, 2006
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