"Gosto de te ter por perto, assim com estás agora, ao alcance de te querer. Se eu quisesse juntava-me a ti e seria mar também. Mas não quero, ainda não. Tenho os meus deuses para inventar e acredito ainda em cores que não são tuas. Um dia, um dia é o tempo de tudo o que haveríamos de ter sido, e eu ainda tenho dias para mundos maiores do que tu. Se eu quisesse, tu eras um segundo pequeno de uma vida por fazer, sabes que o posso querer?
Agora durmo, agora és noite e tens a cor de tudo o resto (o mar não dorme, pois não?). Não sonhas, mas és sonhado e não há nada que possas fazer.
O tempo das ondas parece-nos curto porque as vidas pequenas que vivemos nos deixam ainda ver tantas. Para o vento as ondas são montanhas azuis. Homens que viajam são o vento de quem espera e de quem fica. Tempo que vai e volta e se esquece no passar. Os homens eternos chamam deuses aos ventos e riem sozinhos ao acordar."
Nuno Camarneiro
NO MEU PEITO NÃO CABEM PÁSSAROS, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2011.
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