"Lisboa
(...)
Fernando é uma parte do seu quarto, por isso os seus sonhos se agarram às paredes. Ao tocar-lhes sente a consistência, a temperatura e a humidade do que sonhou. Por vezes, quando acorda, sente o cheiro a medo e o calor dos pesadelos. Há dias em que o quarto cheira a Índia, onde Fernando nunca esteve senão em sonhos de longe, com aromas e cores sem nome. Há outros em que os cheiros do passad0 se entranham nos lençóis e os pesadelos são leves, feitos de vozes doces que chamam por ele.
(...)
Viver num sítio é ser esse sítio, emprestar-lhe uma alma e receber outra em troca. As biografias deviam ordenar-se por lugares, e não por datas. Nesta rua fui assim, numa outra fui diverso. Ninguém sabe descrever uma cidade, são as cidades que nos escrevem a nós."
(...)
Nuno Camarneiro
NO MEU PEITO NÃO CABEM PÁSSAROS, D. Quixote, Lisboa, 2011
Sem comentários:
Enviar um comentário