Novélia e eu nunca falámos. Para quê? Às cinco e um quarto da tarde em Portugal os nossos olhos encontram-se. Às vezes penso nisso. No rigor. Na matemática. Então descubro que as nossas caras são duas equações a uma incógnita com o mesmo resultado (os olhos) sempre. Mas as equações são sempre diferentes. Variam com o frio, com a humidade, com a menstruação. Novélia e eu nunca falámos. Nunca dissemos nada um ao outro. Apenas esperamos. Às vezes pergunto-me (pergunto-te): és casada? Virgem? Tens um filho loiro ou verde? Quantos homens passaram pelos teus lábios? Quantas esperanças nasceram a par dos teus seios? Quando me conheceste? Quando nos conhecemos?
Depressa Novélia: existes ou não? Diz. Diz.
Manuel da Silva Ramos
(1969)
os três seios de Novélia, Dom Quixote, Lisboa, 2008
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