Penso, por outro lado, nas touradas. Vestidos com os seus trajes de luzes, os toureiros lembram-me sempre belíssimas drag-queens. Não deixa de ser curioso que este jogo de homens, brutal recordação das arenas romanas, implique um guarda-roupa e uma coreografia tão veementemente femininos: o traje de luzes, a capa vermelha, os passos e requebros de ancas - trata-se, afinal, de encenar o confronto (e a paixão) entre a bela e a fera. Que a bela seja um macho, parece-me irrelevante. Nas touradas, ao contrário do que acontece na literatura, a grandiloquência é essencial.
Faíza Hayat
Xis, Jornal Público (2004)
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