A sociedade fica estranha quando nos aproximamos dos sessenta anos: falo de livros que os outros não leram, e os outros falam de livros que não me interessa ler. Mas há situações de excepção: hoje entrei num alfarrabista - e não direi em que cidade, pois as lojas de livros usados são pátrias especiais e necessárias - sem outra intenção que não fosse olhar e reconhecer capas antigas. Numa cesta de livros "leve três e pague dois" encontrei Cavalaria Vermelha, de Isaac Babel. Quando pagava, a empregada, uma rapariga ao redor dos vinte anos, quis saber se era um bom livro. Creio que em menos de uma hora lhe contei a história da revolução bolchevique, a saga da cavalaria vermelha, e o triste e, aliás, lógico fim de um escritor que se antecipou aos acontecimentos, exercendo o mais genuíno direita da literatura: contar a História, não como foi, mas como devia ter sido.
Luis Sepúlveda
histórias daqui e dali (2010)
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