As árvores do parque não têm cor. As folhas pendem delas com pouca naturalidade, como se fossem de chumbo. Por vezes, parece que tudo aqui é feito de metal e ferro. Depois volta a cair a chuva e limpa tudo. Chapéus-de-chuva são abertos, os coches rolam sobre o empedrado, as pessoas passam com pressa, as raparigas levantam as saias. Ver pernas que escapam de uma saia tem qualquer coisa de caseiro. Uma perna de mulher, com meias muito justas, nunca a vemos e subitamente ei-la à nossa frente. Que bem se moldam os botins à forma do pé bonito e delicado. Depois volta a brilhar o sol. Sopra algum vento, e logo pensamos em casa. Sim, penso na mamã. Estará a chorar. Porque será que nunca lhe escrevo?
Robert Walser
(trad. de Isabel Castro Silva, 2005)
Jacob von Gunten - Um diário
(1909)
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