domingo, 19 de outubro de 2014

Vermelho - LXXIV

     Na rua, a esta hora, ele passeia-se com certeza para cá e para lá, como uma bola presa por um elástico ao tronco do candeeiro - a sombra oblíqua para um lado e a volta, o caminho reconhecido, para cá, obstinado. Dir-lhe-ei: mas hoje não, saio sozinha comigo, com o meu vestido e os meus pingentes, ficarei livre de sorrir a perguntar: e tu, queres sopa?
     Um vestido vermelho. E pintar a cara, ver-me ao espelho com desproporcionados olhos de formiga, serei um desenho animado. Brincos que tilintem quando eu disser que  decididamente não. O restolhar e o tilintar, ruídos das fantasias do corpo. (...)



Luísa Costa Gomes
13 Contos de Sobressalto (Os Dois Relógios), Livraria Bertrand, 1982.

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