terça-feira, 26 de maio de 2015

Amarelo - LVIII


O DOIRO



     Começa em Mirandela e acaba na Foz, este Calvário. Começa em pedra e água, e acaba em pedra e água. Como nos pesadelos, não há nenhum intervalo para descansar. Entra-se e sai-se do transe em plena angústia.
      No Portugal telúrico e fluvial não conheço outro drama assim, feito de carne e sangue. Drama cruciante e ciclópico, que é o embate de duas forças brutas no primeiro acto, um corpo-a-corpo de vida ou de morte no segundo, e uma espécie de triunfo da fatalidade no terceiro, com o pano do mar a cair. (...)



Miguel Torga
Portugal
(1950)

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