(...) vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, vi o meu rosto e as minhas vísceras, vi o teu rosto e senti vertigem e chorei, porque os meus olhos tinham visto esse objecto secreto e conjectural cujo nome os homens usurparam, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo.
Senti infinita veneração, infinita lástima.
- Ficarás tonto por bisbilhotar assim onde não és chamado - disse uma voz enfadonha e alegre. - Mesmo que queimes o juízo, não me pagarás num século esta revelação. Que observatório formidável, hein, Borges!
Os pés de Carlos Argentino ocupavam o degrau mais alto. Na brusca penumbra, consegui levantar-me e balbuciar:
- Formidável. Sim, formidável!
A indiferença da minha voz causou-me estranheza. Ansioso, Carlos Argentino insistia:
- Viste tudo bem, a cores?
Jorge Luis Borges
(1957)
O Aleph, Editorial Estampa, 4ª ed., 1993
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