quarta-feira, 25 de outubro de 2023

AZUL - CLXXXVI

 

   - Vês?... Vês?...

   Alfredo acotovelava a Abérola. O coro, na límpida suavidade da manhã, ganhava nova beleza, mais claro som:


- Flôr da murta,

Raminho de freixo...


   - Ainda vais muito zangada?...

   Dizia-lho baixinho, muito meigamente, muito carinhosamente:

   - Não! Eu não sei zangar-me com ninguém!

   Punha nos olhos dele toda a ternura dos seus olhos dum azul tranquilo. De longe, veladamente, vinha e voltava a cantiga já apagada pela distância:


A cobra pelo penedo,

Corre que desaparece.

Quem dá confiança a homens

- Oh flor da murta 

Grande castigo merece!


   Ela levantou os olhos risonhos:

- Merece?...

- Merece... - Beijos!

- Mau!



Raimundo Esteves, A Maria Abérola, Edição da Casa Havanesa, Figueira da Foz, s/d, p65-66.

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