O que se tornou hegemónico e pandémico (as livrarias aí estão para o confirmar) não é o romance como forma aberta a todos os discursos e de certo modo indefinível como género, mas as variações infinitas e a mediocridade mimética a que Paul Valéry, no princípio do século XX, passou uma certidão de óbito ao dizer que já não era possível seguir o modelo narrativo do tipo daquele que está implícito numa frase como “La marquise sortît à cinq heures”. (…)
Este romance, que atravessa fronteiras com toda a facilidade e é publicado quase ao mesmo tempo em Nova Iorque, Londres, Paris, Madrid e Lisboa, é o herdeiro de uma literatura de entretenimento que surgiu no século XIX – uma literatura que não é uma forma de conhecimento mas de reprodução, um instrumento de promoção, dominação e legitimação social. É o pacto servil da literatura com este tipo de romance que leva Richard Millet a dizer que entrámos na época da pós-literatura.
Tudo me traz, por estes dias, um desconsolo que não cabe na teia de sons da minha música. Sofro por ti ao pensar em quanto sofres, sofro por mim ao pensar que não te valho, sofro por tudo quanto perdes sem teres reparação. Há-de haver um som generoso e benigno que me possa aplacar a alma. O que mais desejo é que nada te falte, ainda que tu me faltes com tudo o que me faz falta, até com a tua presença suspensa de um fio de voz, com o teu olhar incendiado pelo lume de todas as auroras que os nossos corpos em êxtase e assombro viram romper.
A hegemonia do romance do nosso tempo, melhor dizendo, a pandemia romanesca que levou, há alguns anos, o francês Henri Meschonnic - autor de uma vasta obra de teoria literária, tradutor da Bíblia e poeta - a dizer, num livro de 2001, que o romance é o cancro da literatura (...) não pode ser compreendida se não a ligarmos ao triunfo do jornalismo e das técnicas de storytelling. (...)
Em França, pela rentrée (Setembro/Outubro), publicam-se sete a oito centenas de novos romances. A maior parte deles, poucos meses depois, tem um destino muito francês: a guilhotina. Mas os editores apostam na lei da estatística: entre tantos, o ínfimo número que triunfa conquista um mercado de milhões.
‘E NNUVOLE ispirato a “Che cosa sono le nuvole” di P. P. Pasolini (Lyrics: Pasquale Russo / Music: Antonio Fraioli)
“Mo’ viene cu’ me” e pe’ magia
L’aria addeventaje ‘na via:
“ ’A voce je so’ d’ ‘e nuvole”…
‘Nu volo d’ ‘a fantasia!
“E gira ‘a rota ‘e l’anne,
Tiempo aspettanno: ha da passà!
Da cà se vede ‘a terra
Tra pace e guerra: che ne sarrà”
Po’ ancora dicette : ”Che vuò fa’
Si ‘a gente nun vò cagnà
E sparte sante e diavole
Senza sapé ‘a verità
Si n’ommo ride ‘e core,
N’ato ‘e dulore se fa murì.
Ma che ‘sta vita è una-
vide?- nisciuno ‘o vò sentì!”
“Nun m’abbandunà:
Te prego, resta ancora
Si l’ammore fa campà”
Dicevo “senza ‘e te je moro!”
“Siente? Te chiamma ‘o munno:
Si t’annascunne nun te pò fa’ vedé
Quanto è forte ‘a vita!
Nun l’ê maje capito, dimme ma pecché
Vuò cancellà cu’ ‘o viento ‘o nomme tuojo?
T’ ‘o vuò scurdà pe’ sempe!
Vuò cancellà cu’ ‘o viento ‘o nomme tuojo?
E po’ rummane tu!”
“Nun m’abbandunà ….”
Se ne so’ fujute
Belle zitte e mute:
Già m’hanno lassato ‘e nuvole…
PASSING CLOUDS
Trasleted by Pasquale Russo
lyrics inspired to “Che cosa sono le nuvole” di P. P. Pasolini
(Lyrics: Pasquale Russo / Music: Antonio Fraioli)
“Now come with me!” and magically
a path bloomed in the middle of the sky.
“This is the voice of the passing clouds”:
a flight of my imagination.
“The wheel of the age spins around and around
as we’re waiting for: the time flows away!
From here you can watch over the earth
between peace and war: what will be…”
Then I was told: “What could you do
if people don’t want to change
and divide the good men from the evil ones
without knowing the truth?
Next a man who laughs heartily
there’s an other who’s killed by his pain,
but -d’you see?- nobody wants to admit
we are all made up by the same substance!”
“Don’t abandone me:
please, stay still.
If love lets men live”
I said “without you I’ll die!”
“Can you hear? The world’s calling you:
if you hide, you won’t be able to understand
how marvellous living is!
You never got it, tell me why
you’d like to wipe your name away by the wind?
You wish you forgot it forever!
You’d like to wipe your name away by the wind!
But it’s still you…”
“Don’t abandone me…”
Finally fading out
those lovely clouds slipped away
and passed over me
E, morto o tirano, desaparecidas as Bestas vindas de todos os lados, enquanto um abismo se abria sob os pés de Uraza, que caía num vórtice de enxofre, erguia-se agora no alto, diante da escadaria do liceu e acima do liceu, uma Cidade de Cristal e de outras pedras precisosas, propulsionada por raios de todas as cores do arco-íris, e a sua altitude era de doze mil estádios, e as suas muralhas, de jaspe semelhante a vidro puro, eram de cento e quarenta e quatro côvados.
O pior é ouvir os que são réus a falarem como juízes. Ouvir dizer o horror com alegria sádica ("È preciso acabar com o Estado providência"). Ouvir dizer a esperança com tristeza masoquista ("É preciso mudar de vida"). Ouvir dizer a palavra "mercados" como se a rezassem. Os que se ajoelhavam perante os ameaçados donos do hoje erguem-se agora para os insultar - e ajoelham-se já em frente dos anunciados donos do amanhã que lhes canta aos ouvidos. São sempre os mesmos a fazer o mesmo para obter o mesmo.
Que terrível tempo este, a que somos obrigados a chamar nosso! Sobre este tempo e os seus males, sobre estes dias e os seus medos, as vozes erguem-se para proclamar o óbvio e baixam-se para proclamar o absurdo. As palavras levantam-se para afirmar o injusto e caem para gaguejar o inútil. Lemos os que escrevem os que escrevem sobre esta crise e reparamos que a sua escrita está sempre do lado da morte. A mostruosidade quer mais monstruosidade e a avidez exige mais avidez. Todos apontam o dedo a todos, todos desviam o olhar de todos, mas todos se fazem com todos. Os culpados de ontem são os inocentes de hoje e os inocentes de hoje serão os culpados de amanhã.
Where have all the flowers gone, long time passing?
Where have all the flowers gone, long time ago?
Where have all the flowers gone?
Gone to young girls, every one!
When will they ever learn, when will they ever learn?
Where have all the young girls gone, long time passing?
Where have all the young girls gone, long time ago?
Where have all the young girls gone?
Gone to young men, every one!
When will they ever learn, when will they ever learn?
Where have all the young men gone, long time passing?
Where have all the young men gone, long time ago?
Where have all the young men gone?
Gone to soldiers, every one!
When will they ever learn, when will they ever learn?
And where have all the soldiers gone, long time passing?
Where have all the soldiers gone, a long time ago?
Where have all the soldiers gone?
Gone to graveyards, every one!
When will they ever learn, when will they ever learn?
Ah, como são indescritivamente belas as tuas Cenas Infantis!
Se pudesse beijar-te! O meu entusiasmo cresce de cada vez que as toco. Quanto sentimento encerram estas notas; entendo plenamente os teus pensamentos e desejo mergulhar em ti e na tua música. Todo o teu íntimo se revela nestas cenas, tão comovedoramente singelas...
O dia nasce limpo e luminoso, Mas não te iludas, homem! A Natureza já não é contigo. Daqui a nada toca no quartel, Apita a fábrica de meias, Abre a mercearia, E só então tu poderás saber Se poderás viver, E se chove, E se neva, E se o adeus da tua Eva Te comove.