segunda-feira, 25 de julho de 2011

Crianças

(...) as crianças. São demasiado inquisitivas e impressionáveis. São dramáticas e apreensivas. Não suportam a penumbra nem a ambiguidade. Vêem perigo em tudo, mesmo onde não existe, pelo que nunca lhes passa despercebida uma situação em que realmente haja, nem sequer uma situação apenas turva ou irregular. Há já mais de um século que se deixou de as educar para se tornarem adultos. Muito pelo contrário, e o resultado é que os adultos da nossa época estão educados - estamos educados - para que continuem a ser crianças. Para que nos emocionemos com a competição desportiva e tenhamos ciúmes. Para que vivamos em permanente alarme e queiramos tudo. Para que tenhamos medo e nos encolerizemos. Para que nos acobardemos.

Javier Marías
Todas as Almas

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