- Não, senhor, não sou escritor. - respondi, reagindo de imediato.
- E os papéis escritos que vi? Os papéis sobre os quais caiu de sono.
- Conto a mim mesmo a minha vida. É tudo.
- E isso não é ser escritor?
- Não quero ser escritor, mas sim escrever, que é uma coisa muito diferente. Não sei se capta a diferença subtil.
(...)
- Parece-me que a vida não existe em si mesma.
- Então o que existe?
-Quero dizer que a própria vida não existe por si mesma, pois se não a contámos, essa vida é somente algo que transcorre, nada mais. Está a seguir-me?
- Estou.
- Penso que para agarrar e compreender a vida há que contá-la, nem que seja apenas à almofada ou a si mesmo.
Enrique Vila-Matas
Longe de Vera Cruz, Assírio & Alvim, 1995
Sem comentários:
Enviar um comentário