sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cores

  Normalmente, ou sempre, há pouca cor na sua representação  feminina? Vê a mulher a preto e branco?

  Não é só nas mulheres, é no meu trabalho em geral. Salvo no início, em que andava um bocado à procura daquilo que queria fazer, sempre tive uma paleta de cores muito reduzida. Nunca fui um Fauve, nunca utilizei todas as cores do universo, tipo Matisse, uns azuis extraordinários, uns amarelos brilhantes, uns cor de laranja deliciosos. Sempre fui um artista muito mais sombrio, mais recatado na utilização da cor. Até ao ponto em que, em 1989, 1990, comecei a pensar "será que eu preciso de usar cores"? Comecei a interrogar-me porque é que eu usava cores e comecei a achar que, em determinadas circunstâncias, a cor não servia para nada, era uma espécie de fetiche kitsch, não tinha nenhum sentido prático, nem concetual, se quiser. Então, reduzi tanto a paleta que passei só a preto e branco. Só utilizo cor quando é absoluta e estritamente necessário, como de vez em quando o é.

Julião Sarmento
Entrevista à revista Espiral do Tempo, nº 39
(2012)

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