Os sinais estão aí. Vemo-los sem olhar, esmagados pelas contas e pelos prazos: comer para viver, pagar a prestação da casa, comprar os comprimidos. Sobreviver com cada vez menos, com o essencial, na fronteira mais recuada da dignidade. Por vezes, já abaixo dela, embora procuremos convencer-nos de que assim não é. Concentramo-nos no essencial enquanto nos dizem que quase tudo é supérfluo, e tentamos não ver o cenário que se abre à nossa frente. (...)
Lojas semivazias, fechadas ou em liquidação total. Vitrinas menos brilhantes e menos preenchidas, anunciando produtos de menor qualidade. Os hotéis e os restaurantes com menos clientes, substituídos pelas pensões baratas e pelos cafés de bairro. Come-se pior para se comer mais barato. Desliga-se o aquecimento. Já quase se não vê roupa nova, fardas refulgentes, música a saltar dos carros, filas para concertos, excursões a caminho das praias. Fora do mundo protegido das crianças, há agora menos cor e menos riso, fala-se mais baixo, os corpos movimentam-se mais devagar. Já poucos fazem planos.
Rui Bebiano
Diário as beiras
(15/03/2014)
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