terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Cores



Devo explicar que todas estas ilhas têm uma nuvem sua, uma nuvem própria, independente das outras nuvens e do céu, e com uma vida à parte no universo. Pode, por exemplo, estar o vento que estiver, vento que arraste todos os farrapos do ar, que a nuvem lá está presente tomando várias formas e feitios. Hoje é branca e pequena. À tarde muda de aspecto, ao mesmo tempo que o Pico muda de cor. Não sei que posição toma a nuvem, que em cima fica azul e na base doirada. Espero a hora de assombro em que esta montanha enorme emerge toda vermelha do mar verde, num céu que empalidece e com a nuvem cor-de-rosa agarrada a um dos flancos. É um espectáculo extraordinário: a vida da nuvem e a cor da montanha. Na base manchas roxas - verdura de pinhais, e no alto o barrete vermelho aguçado até à extremidade.


Raul Brandão
(1926)
As Ilhas Desconhecidas, Quetzal, 2011


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