segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Azul - XMIV

     Margarida, cada vez mais interessada pelo estudante das Fontinhas, insistiu:
      - Mas... seja franco! É poeta? - E, fitando a ponta do papel que o rapaz, na precipitação, não escondera bem no bolso, acrescentou: - Então não me acha digna de receber essa pequena confidência?... Somos ambos ilhéus... Estamos aqui sozinhos, longe dos nossos... Leia, que ninguém ouve!
        O rapaz, quase trémulo, fitou Margarida desconfiado. Depois, puxando do papelinho, chegaram-se ambos para a luz, e ele leu:

                     Também eu!, também eu velo a noite no porto
                     Tão azul, apesar da escuridão perfeita...


Vitorino Nemésio
Mau Tempo no Canal
(1944)

Sem comentários:

Enviar um comentário