Margarida, cada vez mais interessada pelo estudante das Fontinhas, insistiu:
- Mas... seja franco! É poeta? - E, fitando a ponta do papel que o rapaz, na precipitação, não escondera bem no bolso, acrescentou: - Então não me acha digna de receber essa pequena confidência?... Somos ambos ilhéus... Estamos aqui sozinhos, longe dos nossos... Leia, que ninguém ouve!
O rapaz, quase trémulo, fitou Margarida desconfiado. Depois, puxando do papelinho, chegaram-se ambos para a luz, e ele leu:
Também eu!, também eu velo a noite no porto
Tão azul, apesar da escuridão perfeita...
Vitorino Nemésio
Mau Tempo no Canal
(1944)
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