(…)
- Que estiveste a fazer aí, Griet? –
perguntou ele.
Fiquei surpreendida com a pergunta, mas
não era tão ingénua que o revelasse.
- A cortar legumes. Para a
sopa.
Dispunha sempre os legumes em círculo,
agrupados como fatias de empada. Havia cinco fatias: couve roxa, cebola,
alho-porro, cenoura e nabo. Tinha-me servido da lâmina de uma faca para dar
forma a cada fatia e tinha colocado um disco de cenoura no centro.
O homem bateu com um dedo na mesa.
- Puseste-os pela ordem em que os vais
meter na sopa? – sugeriu ele, examinando o círculo.
- Não, senhor. – Hesitei. Não lhe podia
dizer porque dispusera os legumes daquela forma. Limitara-me a dispô-los como
me parecia que deviam estar, mas sentia-me demasiado assustada para dizer isso
a um cavalheiro.
- Vejo que separaste os brancos – disse
ele, indicando os nabos e as cebolas. – E depois o cor-de-laranja e o roxo, que
não vão bem juntos. Porque foi? – Pegou numa tira de couve e num pedaço de
cenoura e sacudiu-os na mão como se fossem dados.
Olhei para a minha mãe, que fez um ligeiro
aceno de cabeça.
- As cores brigam quando estão ao lado
umas das outras, senhor.
(…)
Tracy Chevalier
Rapariga com Brinco de Pérola
(1999), Biblioteca Sábado, 2010.
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