sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Cores


(…)

     - Que estiveste a fazer aí, Griet? – perguntou ele.
     Fiquei surpreendida com a pergunta, mas não era tão ingénua que o revelasse.
     - A cortar legumes. Para a sopa.
    Dispunha sempre os legumes em círculo, agrupados como fatias de empada. Havia cinco fatias: couve roxa, cebola, alho-porro, cenoura e nabo. Tinha-me servido da lâmina de uma faca para dar forma a cada fatia e tinha colocado um disco de cenoura no centro.
     O homem bateu com um dedo na mesa.
    - Puseste-os pela ordem em que os vais meter na sopa? – sugeriu ele, examinando o círculo.
    - Não, senhor. – Hesitei. Não lhe podia dizer porque dispusera os legumes daquela forma. Limitara-me a dispô-los como me parecia que deviam estar, mas sentia-me demasiado assustada para dizer isso a um cavalheiro.
     - Vejo que separaste os brancos – disse ele, indicando os nabos e as cebolas. – E depois o cor-de-laranja e o roxo, que não vão bem juntos. Porque foi? – Pegou numa tira de couve e num pedaço de cenoura e sacudiu-os na mão como se fossem dados.
     Olhei para a minha mãe, que fez um ligeiro aceno de cabeça.
     - As cores brigam quando estão ao lado umas das outras, senhor.


(…)



Tracy Chevalier
Rapariga com Brinco de Pérola (1999), Biblioteca Sábado, 2010.

Sem comentários:

Enviar um comentário