(...)
No milénio que vem vai ser um fardo
conseguir encontrar a minha campa,
mas estarei pertinho de Appleyard,
das latas d'HARP, ou doutra nova tampa.
Procurai Byron, Wordsworth, ou virai
à esquerda entre Richardson e Broadbent.
Trazei uma solução e esfregai
qualquer novo palavrão aí presente.
Se amor à arte, ou amor, enxovalho
causar algum grafito a quem o lê,
apagai talvez FODA-SE e CARALHO
mas deixai, c'UNITED, um pequeno v.
Vitória? P'las forças lentas que a seu turno
escavam p'la alma os veios do corpo.
Sairá a Terra do "orbe diurno"
antes de o carvão se criar de novo?
Escolhei um dia como o que eu escolhi
em Maio, quando macieira e espinheiro
agarram a flor e não dão de si,
mesmo que os putos chutem o dia inteiro.
Se, chegado aqui, quem os tenha lido
quer entender os versos que deixei,
defronte à campa, de costas pra Leeds,
leia o epitáfio que eu planeei:
Aqui jaz o poeta, em baixo um poço.
Adepto/a da poesia, se aqui estás
pra ver poemas nascer da MERDA (foge!):
procura a carne, a cerveja, o pão, e olha pra trás.
Tony Harrison
V.,1985 - Antígona, 1999 - Tradução de Manuel Portela
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