Lua-Cheia
FEBRE VERMELHA
Rosas de vinho! abri o cálice avinhado,
Para que em vosso seio o lábio meu se atole:
Beber até cair, bêbado, para o lado,
Quero beber, beber até ao último gole!
Rosas de sangue! abri o vosso peito, abri-o!
Montanhas alagai! deixai-as transbordar!
Às ondas como o Oceano, ou antes como um rio
Levando na corrente Ofélias de luar…
(…)
Amo o Vermelho. Amo-te, ó hóstia do sol-posto!
Fascina-me o escarlate, os meus tédios estanca:
E apesar disso, ó cruel histeria do Gosto,
Miss Charlotte, a flor que eu amo, é branca…
Leça, 1886
António Nobre
Só (1892),
Livraria Tavares Martins, 14ª ed., 1968
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